Aquela
mania de ver em nuvens formas de animais e rostos sorridentes. De lançar pedras
que deslizavam pela superfície da água, de segurar a xícara com as duas mãos e
cheirar o café antes saboreá-lo. Aquela
mania de dizer “tipo” antes de começar a defender sua teoria sobre como Bukowski
é melhor do que Leminski.
De todas
as suas manias, tenho saudade daquela que te fazia associar nosso amor a um
trevo de quatro folhas. “Se perdermos uma folha, ainda seremos um trevo”. “Somos raros”, você dizia, “Somos a sorte de
um amor sincero”, “somos uma exceção à regra”. Eu acreditei em tudo isso até
perceber que ser a exceção não me imunizava contra os erros, sem regras, tudo é
permitido... Ou nada é negado, nada infligi a lei, já que ela não existe,
muitas quebras, muitas decepções.
Com o
tempo, ver formas em nuvens se tornou chato, as pedras não deslizavam mais pela
superfície da água, afundando na primeira tentativa, já não existia mais tempo
para um café e, “tipo”, foi a palavra que precedeu minha desistência de nós
dois.
Nosso
trevo perdeu uma folha, mas continuou sendo trevo, sendo amor. Mas tornou-se
comum, banal. Não sobrevivemos às brigas, desentendimentos que todo casal está
fadado a enfrentar. Não fomos treinados para isso, éramos raros, acostumados a
ser a exceção. Passamos de exceção à regra obrigatória.
E regras
foram feitas para serem cumpridas.
E a minha
regra numero um é voltar a ver formas em nuvens, voltar a sentir o cheiro e
saborear um bom café, voltar a discutir teorias banais que não levam a nada,
voltar a sorrir... Até você voltar, e perceber que regras e exceções não ditam
sentimentos e emoções.
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