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Ou talvez você quisesse que eu ligasse no dia seguinte apenas para se sentir importante.

A questão é que eu não liguei, não mesmo. Eu te salvei. Acredite.

Te salvei de um cara que aos 26 anos ainda não concluiu sua primeira faculdade, que não é maduro o suficiente para conversar sobre escritores que você conhece e ama, eu nem sei quem é Fante ou Rimbaud . Só apenas balancei a cabeça em confirmação as tuas palavras porque esse ato já virou mania para mim. E teus olhos me hipnotizam, já não sou mais eu quando estou contigo, sou teu.

Te salvei de um fumante compulsivo, que pelos cálculos dos cientistas só pode te oferecer dois pulmões pretos de fumaça barata. Te salvei de um cara que cheira a bebida e perfume amadeirado como prova de que  já rodou todos os bares de SP e já beijou tantas bocas que já nem lembra mais.

Vai por mim, eu salvei a tua vida. Abri caminho para um cara que usa Ferrari Black, que te leva para jantar e conversa sobre a teoria de tudo, te mostra o quanto ele culto e gentil e, sim, ele conhece esse tal Fante também. Ele vai gostar de você, vai te ligar no dia seguinte, vai querer – assim como eu – ver teus risos diários e elogiá-los a cada instante.

Você sorri fácil e é isso que me fez quase te ligar e privar você desse mauricinho metido a besta. Mas seria egoísmo meu estragar suas chances de conhecer alguém que lhe ofereça mais do que um simples amor de um romântico vagabundo.

[Jô Lima]