Lembro entre uma de minhas – muitas- andanças por essa
cidade cinza, ter notado um ponto de cor. Pequeno e quase apagado no meio da
multidão. Era você. Tentava se esconder do mundo como se um livro de George R.R
Martin bem seguro em suas mãos fosse grande o suficiente para te fazer passar
despercebido. Mas eu te vi. Vi como olhava para as letras – que, pela sua fisionomia,
pareciam estar em latim- e viajava para fora do que estava no livro, lembro-me
da cara confusa que fez quando eu me aproximei e chamei sua atenção de uma
forma pouco convencional: Dei spoiler do livro! Mas você não estava interessado
na leitura mesmo. Não fiz por mal. Ou fiz?
Sentei do seu lado com meu café- meio- chá nas mãos e você
me lançou aquele olhar, algo entre Não-estou-a-fim-de-papo e –Você-não-faz-exatamente-meu-estilo. Eu
simplesmente te dediquei o meu melhor sorriso, é tudo o que tenho para te
oferecer. Você retribuiu.
Ficamos ali, no mais puro silêncio de uma São Paulo
barulhenta. Na escadaria de um teatro sem peças em cartaz, sendo nós mesmos a
atração principal de quem ia e vinha pela avenida e calçadas estreitas.
“Eu já sabia” você diz olhando pro nada. Não entendo sua
afirmação, mas resolvo te olhar, não é ruim a visão que tenho de você. “O
livro. Eu já sabia o final”. Entendo que sua resposta é mais um pedido do que
uma afirmação, algo que beira o afago de uma atenção que lhe ofereci sem o
menor pudor. Te dedico o meu segundo melhor sorriso, já que o primeiro também
foi dedicado a você horas antes. Chego mais perto, te ofereço um gole do meu
café em troca de abraços quentinhos e um cafuné no fim do dia.
E cá estamos nós, Na escadaria de um teatro
sem peças em cartaz, sendo nós mesmos a atração principal há mais 3 anos, dividindo outro café – entre tantos que já dividimos-
em troca de abraços e cafunés que sempre me parecem ser os primeiros a cada
dia.
[Jô Lima]
1 comentários
Você organiza as palavras de um jeito tão delicado que me faz querer reler esse texto muitas vezes!!!!
ResponderExcluirMarília